quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Empáfia argentina e enganação

 

Chiko Kuneski

Existe uma piada da época em que não havia o politicamente correto que diz: “o melhor negócio do mundo é comprar um argentino pelo preço que ele vale e vender pelo preço que ele acredita que vale.” É xenofobia? Pode ser; mas não sou politicamente correto. Jorge Sampaoli é a materialização dessa anedota, mas ele a usa para ganhar muito dinheiro com projetos de enganação dos clubes, principalmente os brasileiros.

Esse pseudo técnico é uma enganação que sabe enganar ou uma peça para que os enganadores dos clubes usem bem para enganar a torcida? Dilema interessante. Para mim se retroalimentam em projetos de destruição bem arquitetados.

Sampaoli é contratado pelo Flamengo sob a chancela absoluta do presidente Landim para substituir Vitor Pereira, esse um português que cabe na piada sobre argentinos, e mudar radicalmente o time depois de um fracasso absoluto no Mundial duas recopas e o carioca. Aqui cabe lembrar que o português foi contratado para o lugar de Dorival Jr, que levou o Flamengo a ser campeão da Copa do Brasil e Libertadores, sem qualquer explicação lógica da diretoria.

A falta de lógica aqui é proposital. Braz e Landim começavam seu projeto de enganação para o sucateamento do time. Não é um plano amador. É um plano que envolve milhões de euros na transformação do Clube de Regatas Flamengo em uma SAF. Isso que está por trás da contração de técnicos incompetentes. Um futuro de milhões e poder em suas mãos.

Nada mais perfeito para por em prática esse plano que a empáfia argentina. O perdedor Sampaoli, o único técnico que foi demitido em plena copa do mundo por pressão dos jogadores argentinos, isso é importante lembrar. A dupla da diretoria sabia que sua empáfia iria destruir, passo a passo, uma equipe vencedora desde 2019. E os detalhes desse trabalho destrutivo salta aos olhos.

Em 37 jogos a frente do Flamengo Sampaoli usou 37 formações diferentes e pelo menos seis conceitos táticos, se é que se pode chamar assim, diferentes. Quando chegou e perdia jogos até fáceis, se desculpava pela falta de tempo de treino. Ou, como frisava, “de contundência”. Quando tinha tempo de treino foi goleado de forma pífia. O vice presidente de futebol Braz se ria por trás da cortina de fumaça de seu fétido charuto e o presidente Landim evaporava na mentira de um estádio próprio.

O plano dando seu resultado. A ineficiência do empaenfioso argentino que está destruindo o modo de jogar e a alegria dos jogadores cumpre seu papel na criação de uma crise que servirá, num futuro próximo, para o projeto de Braz e Landim venderem o Flamengo e transformar o maior clube do brasil numa SAF. Quem não gostará de comprar o Flamengo com seus mais de 40 milhões de consumidores? Para Landim, além das propinas normais de tais negociações, ainda caberia negociar ser o CEO da SAF Fla e se perpetuar no poder.

É pura ilusão pensar que Sampaoli está sendo mantido, apesar do desastre como técnico perdendo tudo até agora, pela mão de ferro do presidente do clube por sua teimosia. Landim mantém seu projeto e o argentino faz parte dele.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Uma crônica por tubo

 

Chiko Kuneski


Ainda bem criança, lá pelos 9 ou dez anos, numa aula de redação escrevi uma crônica, muito tempo depois descobri que poderia classificar assim, sobe a paixão de um menino pelo futebol. Não, não era jogar, mas ver jogar. Um garoto que sumia de casa para ver seu time do coração pelas frestas dos velhos e desgastados portões do campo. Havia quem chamava de estádio, uma ironia. Era um pasto com duas traves uma pequena arquibancada e o mais importante...o jogo.

Quando não podia dar essas escapadinhas ou o jogo seria em outra cidade a saída era colar o ouvido no rádio, fechar os olhos e criar o que via pelas frestas na mente. Pouco importava se o locutor exagerava, ou, até inventava emoção. Na sua paixão via a partida distante como se estivesse na frente de uma TV. Às vezes, quando era seu time de longe que só via pelo tubo nas transmissões domingueiras, essa fictícia realidade ficava ainda mais real.

Com o afã de poder ver os seus times, que sempre lhe pareciam mágicos, o menino criou um invento, não menos mágico. Das ondas do rádio e das vozes dos locutores a criação materializava imagens como as dos jogos pela televisão. Era um sonho dentro do sonho.

Não lembro se tirei boa nota com os dois delírios. O futebol e a redação. Mas isso pouco importa.

Hoje aquela imaginação infantil se materializa quase que diariamente. O futebol por tubo. Ou melhor, por tubos. Com as transmissões por satélite o mundo virou o campo e a tecnologia as frestas dos velhos portões. Nunca o futebol se mostrou tanto por meras ondas magnéticas convertidas em imagens.

Com a internet o futebol pode ser visto pelas várias plataformas de transmissão. O que era um poder absoluto das TVs ramificou-se por outros canais. Os “streamings” trouxeram o futebol para o bolso, para a tela do celular. Melhor. Invadiu até as telas dos aparelhos de TV.

Jamais os jogos foram tão por tubo. Esse menino da primeira redação de uma espécie de ficção científica, viveu o bastante para escrever sobre sua paixão, ainda pulsante mesmo adulta, e nessa autêntica Crônica por Tubo. Como é o futebol.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Asas da liberdade

Chiko Kneski


Ícaro e o pai eram brancos, segundo a mitologia, abro aqui um parêntese para dizer que adoro a mitologia, não os mitos, esses mostram-se inúteis e descartáveis, mas viviam no lúgubre de um presídio sem ter cometido os crimes, nunca comprovados, imputados. A saída dessa prisão, de bárbaros costumes, era voar. Mas para voar seria preciso asas. Os homens não nascem com asas, não os comuns.

O futebol tem coisas que vêm da mitologia. As asas. Para poder fugir da prisão dos mesmismos e galgar os céus da liberdade é preciso ter a asas. Asas nas chuteiras. Ir além. Voar em campo. Planar na grama. Encantar a ponto de provocar inveja e revolta.

Vinícius Jr tem asas nas chuteiras. E sempre teve o sonho da glória dos céus do futebol. Ousou voar alto desde a adolescência encantando quem gosta da arte do futebol e do futebol arte. Mas, como Ícaro, subiu demasiadamente, pelo menos para os meros e medíocres terrenos, e encontrou o seu sol na maior escuridão do pensamento humano

O racismo.

Venceu todos os obstáculos. Paciente, cultivou suas asas nas chuteiras para voar nos gramados da Espanha e bailar, encantando o mundo. Ousou ser moleque da bola. Driblar. Brincar. Como Ícaro nos céus sentindo o vento soprar-lhe odes aos ouvidos quando corre, corre não, faz os pés voarem, deixando os adversários para trás.

O encanto incomoda. A ousadia perturba os medíocres. A alegria trouxe o ódio. O ódio materializou-se em ataques racistas insanos. As asas negras das chuteiras coloridas provocaram a ira. A inveja. O ataque. O garoto de 22 anos, ousado, moleque, inteligente, perspicaz, tinha que ser derrubado. A arma foi a mais vil

O racismo.

O conceito mais baixo vindo das arquibancadas dos adversários, mas orquestrado no sub mundo de dirigentes inescrupulosos e vis. Não foram os gritos: “macaco”, “macaco”, “macaco” proferidos colericamente conta as asas nas chuteiras de Vini JR que tentaram derrubar sua alegria juvenil de jogar bola e encantar quem o vê jogando bola. Voando com ela nos pés. A hipocrisia lúgubre das masmorras mentais dos dirigentes medíocres e racista eclodiu nessa insanidade coletiva da Espanha.

Tentaram orquestrar a queda do “menino” que tem a alegria de voar em campo e fazer voar as mentes de quem o vê jogar com a arrogância racista. Mas as asas nas chuteiras de Vini Jr correram o mundo. Materializaram o personagem mitológico. Contaram a história. Contragolpearam

O racismo.

 

Ck 21/05/23

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O Tango e o Cancan.

Chiko Kuneski

 

Plagiando Caetano Veloso, “argentino dança tango, ora lento, ora ligeiro...” Mas esse jogo não foi marcado pelo passo do tango, do lado portenho foi uma bela milonga, arrastada, sofrida, de flerte com a conquista e a dor da perda da sonhada e amada Copa.

Os passos de Messi e de Di Maria tiraram os franceses para bailar em um ritmo diferente de compassos e com passos inusitados. Conduziram a dança magistralmente, as vezes quase num verdadeiro bolero de "dois para lá, dois pra cá". Mas a dança de final de copa, e que final, é longa e, tal qual a milonga, arrastada.

Faltaram os passos derradeiros, faltaram as pernas da condução. Só que havia ainda a dança. A juventude do Cancan. A velocidade do sobe e desce. Dos pés ágeis buscando o vazio do espaço e, porque não, o rebolado maroto dos africanos da França. Esse bailado no tablado de grama e paixão, como define Mauro Antônio Pandolfi, tinha dois maestros. Um em sua mais importante apresentação: outro atrevido buscando galgar a genialidade do rival.

E assim foi o grande espetáculo dessa lunática Copa do Mundo do Qatar. Um gran finale de dois ritmos, dois passos, duas danças. Como toda a milonga, o sofrido sempre tem um segundo passo. Messi o teve. Desabou com o cotovelo de Montiel. Nova dor de cotovelo cantada num eterno tango de sofrimento?

Parece que os deuses do futebol, sarcásticos, apenas desejavam prolongar a dança. A crueldade deles fez a milonga prosseguir até o mesmo Montiel cobrar o pênalti que deu a Argentina seu tricampeonato mundial e a Messi a tão desejada e merecida Copa. A crueldade dos deuses guardava o sofrimento final para o derradeiro passo do tango.

Os deuses são milongueiros, gostam de arrastar a última nota. Mas, quando querem são justos. Messi levou a Argentina ao título. Foi o craque da Copa e está na história como o maior e mais genial jogador de futebol do século XXI. Ou, talvez, de todos os tempos.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O sonho e a batalha

O sonho e a batalha

"Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que, não sei onde, alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi".
Clare é a personagem de 'A mulher do viajante do tempo', de Audrey Niffemegger, que acompanha o marido Henry, que tem um distúrbio genético, que faz seu relógio biológico flutuar entre o futuro e o passado, levando a momentos extraordinários de sua vida. Escrever é pouco isto. Navegar no passado, para inventar o futuro, não devolver o presente  e descobrir que o amor, a paixão, resiste a tudo, principalmente, ao tempo.

Mauro Antônio Pandolfi


'Maurinho, Levanta!' Era a voz de minha mãe. Mas, o que ela está fazendo aqui em casa? Não me avisou que vinha! A Elaine poderia ter me chamado!  Ao sair da cama, vi tudo diferente. O quarto era outro. A casa não era a minha. Não vi a minha cama e nem a Elaine. Percebi uma velha camisa no Grêmio na porta da geladeira, que em outro tempo, servia de armário. Me senti mais leve, mais rápido, mais disposto. Ao chegar no banheiro notei as diferenças. Era cabeludo, a barba não era branca, e no banho, a barriga era quase um tanquinho. Que milagre foi este? 'Mauro, vem!' Agora era voz do pai. Como é bom ouvir a voz firme dele. Certa vez vivi este insight, com uma outra turma, este flerte com o buraco de minhoca,  devaneio ou só um sonho... E, foi ótimo!
'Pronto! Estou aqui! disse para a mãe ao chegar na cozinha. O beijo gostoso tinha sabor de café. O pai estranhou o meu meu abraço forte, amoroso e o beijo ruidoso da careca. 'Saudades de você, véio!' Ele riu, não entendeu nada, ouvi o resmungo dele para a mãe: 'é a ressaca!'. O Márcio, guri e lindo, vestia uma camisa do Grêmio. O Mário, revi ele rapaz e bonito, conversa animadamente com o primo Juca, que abriu um sorriso ao me ver. 'Afinal, vocês vão ganhar alguma coisa?' 'Vamos!" foi o máximo que consegui responder. Tudo era estranho e mágico, ao mesmo tempo.
Olhei as paredes! Entendi o dia: Três de maio de 1981. A casa estava forrada de fotos, de posters, de cartazes, de frases falando do Grêmio Campeão Brasileiro. Gargalhei alto, assustando as gatinhas Vila e a Toga e o meu pai. 'Que foi? Tá louco? O que tu bebeu ontem, Mauro?' É somente alegria em estar com vocês, ver o Grêmio ser campeão brasileiro. Até cantei: 'É a vida, é bonita e é bonita. Viver e não ter a vergonha de ser feliz". 'Que lindo, Maurinho! É um poema teu?', perguntou a mãe. Disse para ela que não. 'No futuro, a senhora vai gostar muito desta música'. Não disse nada, só riu.
O almoço foi estupendo, como eram aqueles almoços. Comida saborosa, histórias deliciosas, risos. A vida é mais do que bela. É iluminada! Logo veio o jogo. Juca saiu antes. Como era um cara especial, o querido Juca! Colorado, não quis acompanhar, secar, estragar a festa dos gremistas. Estávamos tranquilos, calmos, quietos, sentados no mesmo sofá. Afinal, bastava o empate. Tudo mudou quando Paulo Roberto levantou a bola para a área. Renato Sá escorou de cabeça. Baltazar acariciou no peito, enquadrou o corpo, o chute foi mortal. A bola não tinha estufado a rede e os gritos já invadiam a sala. Um misto de 'gol!', 'é campeão!', 'Grêmio!!'. A nossa pequena festa durou até a madrugada. Dormimos poucos. O outro dia era segunda. Trabalho e escola. Felizes, como nunca tínhamos sido antes no futebol!
O relógio despertou. Poucos antes da sete da manhã. Reconheci o som. Era o celular da Elaine. A vida voltou ao normal. 'Que dia é hoje?', perguntei. 'Não lembra mais do 26 de novembro? Achei que era inesquecível? Me enganei?', me provocou. 'Jamais!', respondi. A nossa maior vitória. 'Impossível! O substantivo masculino do imponderável se transmutou em um outro extraordinário: inacreditável!' Foi assim num texto para este Crônicas Por Tubo defini a Batalha dos Aflitos, sábado de 2005. O jogo que nos  tornou 'Imortal' - termo que detesto - e capaz de todas façanhas para servirem de modelo para toda a Terra. 'É hoje o jogo contra o Bahia, não é? Vão repetir a história - aliás, como farsa ou tragédia, como você sempre diz - ou confirmar a queda?'. Fiquei em silêncio. Ela entendeu o meu silêncio. Me deu um beijo, se despediu e foi trabalhar. Não sei o dia de hoje. Apenas, gostei que o buraco de minhoca que abriu foi de um dia feliz. Depois de tanta tristeza, merecia um dia de festa. Tenho dúvida se haverá festa logo mais, em Salvador. Porém, como dizem por aí, enquanto tem bambu, tem flecha! E, como descobri no futebol e na vida, o impossível não existe. 
Dá-lhe Grêmio!!!

Esta crônica é uma singela homenagem a Francisco Dalla Costa. O futebol não teve tempo para se encantar com o talento do Chico, o garoto que virou lenda e brilha no meu campo dos sonhos.

 

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Solidão, queda, silêncio